sábado, 17 de agosto de 2013

§ TRAB COM TEXTOS - QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO




Quando se fala da decadência do Império Romano, muita gente pensa que aconteceu como aparece nos filmes realizados no século XX: romanos gordos perdidos em banquetes, bebe­deiras e orgias, incapazes de enfrentar os bárbaros. Embora essa vida festiva fosse comum entre os nobres, não é correto achar que ela tenha sido a causa básica do fim do império. Na verda­de, a própria ideia de decadência deve ser questionada. Afinal, nos últimos anos do império houve uma vasta vida cultural, com importantes poetas e artistas. É complicado falar em deca­dência total quando a vida cultural ainda apresenta vigor, não é mesmo?

                Nós vimos que a crise do Império Romano esteve associada a diversos fatores: a diminui­ção do dinheiro dos impostos, as disputas de poder e a corrupção dos governantes e funcio­nários públicos, a desvalorização da moeda, a necessidade de fazer acordos que levaram ao fortalecimento dos bárbaros germânicos nas fronteiras.

                Também falamos dos problemas da diminuição do número de escravos. O problema é que um acontecimento histórico pode ser interpretado de diversas maneiras pelos estudiosos. E isso é ótimo, porque o conhecimento avança graças às polêmicas e aos debates. O eminente historiador inglês M.I. Finley, por exemplo, discorda dos que acreditam que a causa fundamen­tal da crise do Império Romano tenha sido a redução do contingente de escravos:

 

       “Há um elemento de verdade nesse quadro. Tanto o fim das capturas massivas como a distância cada vez maior que os caçadores de escravos tinham que percorrer para se abastecerem deve ter aumentado o preço dos escravos. (...) Mas também há falhas no argumento de que ele possa ser uma explicação suficiente. A primeira é cronológica. A conquista romana sistemática estava concluída em 14 d. C. e as supos­tas consequências da diminuição dos escravos só se fizeram sentir muito tempo de­pois. Em segundo lugar, existe a ( ... ) 'escravização interna' ( ... ) através da venda e ex­posição de crianças e raptos bem organizados. ( ... ) Uma outra falha é o pressuposto curioso de que os germanos, que não foram incorporados pelo império, eram insa­tisfatórios como escravos. ( ... ) As fontes antigas desmentem essa suposição, por exemplo, ao se referirem às atividades escravizadoras durante as guerras contra os godos [bárbaros germanos]. A falha é o pressuposto de que a redução do número de escra­vos cativos e importados não pode ser compensada pela reprodução."

(FINLEY, M. L. A economia antiga. 2ª ed. Lisboa: Afrontamento, 1986, pp. 119.)

 

QUESTÕES SOBRE O TEXTO
 

1) Ele considera totalmente equivocado acreditar que a escassez de escravos foi uma das causas da crise?
 
 
 
 
2) O que ele quis dizer com “explicação suficiente”? (linha 4 do texto)
 
 
 
3) O que significa a expressão “cronológica” em relação à questão da falha? (linha 5 do texto – dica: o que tem a ver com cronologia
 
 
 
4) E qual foi a falha cronológica?
 
 
 
5) Era possível obter escravos dentro do Império Romano?
 
 
 
6) Tornou-se realmente impossível obter escravos fora do império?
 
 
 
 
 
 
(Extraído de "Nova História Crítica" de Mário Schmidt)

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