Quando
se fala da decadência do Império Romano, muita gente pensa que aconteceu como
aparece nos filmes realizados no século XX: romanos gordos perdidos em
banquetes, bebedeiras e orgias, incapazes de enfrentar os bárbaros. Embora
essa vida festiva fosse comum entre os nobres, não é correto achar que ela
tenha sido a causa básica do fim do império. Na verdade, a própria ideia de decadência
deve ser questionada. Afinal, nos últimos anos do império houve uma vasta vida
cultural, com importantes poetas e artistas. É complicado falar em decadência
total quando a vida cultural ainda apresenta vigor, não é mesmo?
Nós vimos que a crise do Império
Romano esteve associada a diversos fatores: a diminuição do dinheiro dos
impostos, as disputas de poder e a corrupção dos governantes e funcionários
públicos, a desvalorização da moeda, a necessidade de fazer acordos que levaram
ao fortalecimento dos bárbaros germânicos nas fronteiras.
Também falamos dos problemas da
diminuição do número de escravos. O problema é que um acontecimento histórico
pode ser interpretado de diversas maneiras pelos estudiosos. E isso é ótimo,
porque o conhecimento avança graças às polêmicas e aos debates. O eminente
historiador inglês M.I. Finley, por exemplo, discorda dos que acreditam que a
causa fundamental da crise do Império Romano tenha sido a redução do
contingente de escravos:
“Há um elemento de verdade nesse quadro.
Tanto o fim das capturas massivas como a distância cada vez maior que os
caçadores de escravos tinham que percorrer para se abastecerem deve ter aumentado
o preço dos escravos. (...) Mas também há falhas no argumento de que ele possa
ser uma explicação suficiente. A primeira é cronológica. A conquista
romana sistemática estava concluída em 14 d. C. e as supostas consequências da
diminuição dos escravos só se fizeram sentir muito tempo depois. Em segundo
lugar, existe a ( ... ) 'escravização interna' ( ... ) através da venda e exposição
de crianças e raptos bem organizados. ( ... ) Uma outra falha é o pressuposto
curioso de que os germanos, que não foram incorporados pelo império, eram insatisfatórios
como escravos. ( ... ) As fontes antigas desmentem essa suposição, por exemplo,
ao se referirem às atividades escravizadoras durante as guerras contra os godos
[bárbaros germanos]. A falha é o pressuposto de que a redução do número de
escravos cativos e importados não pode ser compensada pela reprodução."
(FINLEY, M. L. A economia antiga. 2ª ed.
Lisboa: Afrontamento, 1986, pp. 119.)
1) Ele
considera totalmente equivocado acreditar que a escassez de escravos foi uma
das causas da crise?
2) O que ele
quis dizer com “explicação suficiente”? (linha 4 do texto)
3) O que
significa a expressão “cronológica” em relação à questão da falha? (linha 5 do
texto – dica: o que tem a ver com cronologia
4) E qual foi
a falha cronológica?
5) Era
possível obter escravos dentro do Império Romano?
6) Tornou-se realmente impossível obter escravos fora
do império?
(Extraído de "Nova História Crítica" de Mário Schmidt)
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